Participe do Blog Pensando Alto!

18 de janeiro de 2008

De Saint Louis para São Luís: a história de uma cidade

Tombada como Patrimônio Histórico Cultural da Humanidade pela Unesco em 1997, todo o sítio historio que contempla o centro da cidade de São Luís passou a consagra-se uma memória arquitetônica de construções que datam do século XVII ao século XIX a história colonial do Brasil. A história da cidade inicia coma exploração de colonizadores luso- açorianos , proveniente de povoamentos das ilhas açorianas do norte de África, descritos por um padrão cultural particular que misturou-se aos costumes indígenas e a própria forma de sobrevivência dos índios – primeiros habitantes destas terras. O Maranhão sempre teve uma grande importância comercial e de circulação de mercadoria e pessoas, mas até fixar-se como colônia os portugueses travaram uma séria batalha com os franceses. Os franceses aportaram em São Luís em 1594, desenvolvendo relações amigáveis com os indígenas e interessados no comércio de madeiras e de tintas para tingimento dos tecidos. A França pretendia fundar a França Equinocial, e em 8 de setembro de1612 batizou a ilha de Saint Louis. As expedições portugueses iniciadas em 1554 haviam sido fracassadas muitas vezes por naufrágio ou ataques indígenas. O sumisso do rei português D. Sebastião I em uma batalha no Marrocos, determinou a falta de segurança nas novas terras, facilitando o domínio francês. Apenas a partir de 1580 com a União Ibérica, que os portugueses vão travar uma guerra contra os franceses e expulsa-los da região em 1615 sob o comando de Alexandre Moura. A partir de então a cidade passa assumir novas leis da coroa portuguesa à frente da Câmara Municipal e das funções administrativas. O curioso da formação da cidade de São Luís é o crescimento da malha urbana e comercial nas proximidades da baia da Praia Grande, que abrigava uma grande circulação de barcos, pessoas e mercadorias. As embarcações locais sofrerem uma influencia direta da cultura indígena que ditava a utilização dos recursos da natureza, mas também sofria com a escravidão e cristianização. Os índios que eram alforriados e civilizados tinham direito de participação na câmara municipal. Os negros africanos foram sendo introduzidos de acordo com o crescimento das fazendas de cana de açúcar e do próprio tráfico negreiro. As festas dos negros africanos se misturavam as festas portuguesas que agregavam os batuques dando origem ao conhecido tambor de criola. Apesar da forte tentativa portuguesa de desenvolver São Luís, as invasões holandesas determinaram uma guerra civil em 1641 que destruiu a cidade. A defesa da cidade, fortaleceu o sentimento de pertencimento de indígenas e portugueses criando novas leis, como a do direito dos índios de gozar da liberdade e viver em aldeias. O desenvolvimento arquitetônico da cidade vai mudando do século XVII para o século XIX de acordo com o desenvolvimento econômico da cidade e também dos novos colonos oriundos da Europa e imigrantes de outras partes do mundo. Um passeio que vale a pena não só pela percepção de um novo espaço, mas também da memória de outros tempos.

Alcântara: um continente com cara de ilha.

Cidade vizinha de São Luís, distante algumas horas de barco a 1h:30min na Baía de São Marcos, Alcântara cresceu em uma antiga aldeia indígena Tupinambá, mas elevou-se a vila por meio da interferência jesuítica que havia fundado as missões em Tapuitapera. Foi em 1648 que batizada pela igreja e pelo governo português, passou a chamar-se Vila de Santo Antônio de Alcântara. Em Alcântara, o crescimento populacional e a circulação de pessoas interessadas no comércio de produtos da Amazônia no século XVII, não foi responsável pela perda das tradições de lugarejo e resquícios da colonização luso-açoriana que trouxe escravos africanos, a câmara municipal, a cadeia e novas leis administrativas. Chegar em Alcântara em pleno século XXI e encontrar remanescentes culturais e antigas histórias é simplesmente fantástico, principalmente relacionando-os com os processos históricos que determinaram novas realidades, como o Banco dos Quilombolas. Com a construção da base de foguetes em Alcântara, os quilombolas que nas proximidades da cidade viviam tiveram que ser remanejados pelo governo. Diante das estruturas econômicas auto-suficientes abaladas, o governo resolveu criar uma moeda para a comunidade para a venda e troca dos excedentes. O Guará: dinheiro dos quilombolas vale R$1 e pode ser trocado em bancos de Alcântara e São Luís. Não são só as histórias que atraem na cidade, mas o belo mangue que toma conta de Alcântara, e junto com as secas e vazantes da maré dão uma característica única a paisagem. Foi nesta região de igarapés que o pássaro vermelho Guará pode ser visto se alimentando dos filhotes de caranguejo vermelho. Os guarás nascem brancos e quando comem os caranguejos vermelhos adquirem a pigmentação vermelha. Um espetáculo a parte da natureza!

LIXO NO LIXO?

O município de Raposa integra-se a rota turística do Estado maranhense pela beleza de suas praias e também pelas tradições locais encontradas na figura das rendeiras e pescadores de rede. A viagem dura em média 1h e 30 min, saindo de São Luís do Mercado Central no centro histórico, pegando o coletivo “Raposa/ Aragacy”. O aspecto rural torna-se corriqueiro após o distanciamento do perímetro urbano. A cidade de Raposa concentra-se em uma longa rua onde as casas ocupam irregularmente o mangue e as proximidades da praia. Na orla da cidade os barcos são atracados e é de lá que os turistas fazem o passeio. Mas, o que realmente chama atenção é a pobreza que ronda a pequena cidade determinada pela própria economia local, sumamente pesqueira e artesanal. As rendeiras fazem de suas casas a loja e o ateliê, onde é possível vê-las trabalhando, junto aos homens que também costuram redes de pescas e redes de dormir. Apesar da humildade descrita nestas economias tradicionais, esta foto revela o desconhecimento da educação e informação, diante de tanto lixo acumulado e trazido pelas marés abaixo das palafitas. Mesmo sendo um lixo sólido, que poderia ser aproveitado e separado pelos moradores conjuntamente com uma ação com a prefeitura, muitos animais circulam no local como cachorros, gatos, propiciando a proliferação de doenças junto a ratos e baratas, em um espaço onde as crianças são vistas brincando nuas no chão das ruas. É prefeito Paraíba, de que adianta atrair turistas para a circulação de uma economia engessada perante tanta negligência com a população local? O interessante é trabalhar com a comunidade e compreender a economia local colocando estas pessoas como sujeitos do processo e não como mero espectadores. A ocupação irregular dos mangues deve ser revista em função da área ambiental e também do lixo trazido pela maré. A população deve ser educada a compreender o espaço e a realidade a qual estão inseridos, e isso não é um dever do Estado, é apenas um direito de todos.

Olhares de um maranhense: “As enchentes e as casas suspensas por Jiraus”.

A rotina do lugarejo Bom Que Dói só foi quebrada com as primeiras chuvas de janeiro, que encheram o lago e inundaram completamente o povoado. No inicio, as pessoas permaneciam em casa, na esperança de que parasse de chover. Logo chegaram à conclusão de que não haveria estiagem e era impossível permanecer nessa situação, pois os mantimentos estavam escasseando. Foram obrigados a executar tarefas para não ficarem a mercê do aguaceiro torrencial que caía diariamente. As canoas utilizadas na pesca passaram ser um meio de transporte. Muitos animais domésticos morreram afogados e eram arrastados pelas correntezas. As casas completamente inundadas tiveram que ser adaptadas, com a construção de jiraus suspensos de madeira. Os homens trabalhavam em mutirão, transportando madeira nas canoas. Em poucos dias o lugar tomou forma. Entretanto, aconteceu um fato que trouxe preocupação aos pais das crianças de Bom Que Dói, é que elas passavam o dia inteiro nadando com peixes, numa prática arriscada de vida. Quando, altas horas da noite, os pais davam ausência dos filhos, iam procurá-los e os encontravam dormindo debaixo d’água, em completo estágio de felicidade, como se tudo fosse normal. Os meninos já tinham escamas e barbatanas como os peixes, e as meninas desenvolveram caudas como as sereias, e cantavam lamentos de amor ao anoitecer. Depois de seis meses, as águas foram baixando e o povoado voltou a ter a sua forma original, a não ser pela mudança do estilo das casas que permaneceram com jiraus suspensos, visto que os habitantes receavam que as chuvas pudessem voltar e alagassem as ruas. Recuperaram as lavouras e voltaram às atividades normais de pesca no lago, que produzia em grande quantidade. (Gilmar Pereira dos Santos In: “Nas Terras de Bom Que Dói”)

Quer saber mais sobre a região?

Bibliografia: • MARTINS, Ananias. “São Luís. Fundamentos do Patrimônio Histórico. Séc. XVII, XVIII e XIX”. São Luís: Sanluiz,2000. • Pereira, Gilmar Santos. “Nas Terras de Bom Que Dói ”. São Luís: 2007. 48p.