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7 de fevereiro de 2019

Nas plumas de Quetzacoalt: a principal divindade da cultura asteca.

Quetzal: o pássaro.


Quetzacoalt: o Deus Sol

O ciclo natural da vida orienta a existência e a sobrevivência dos seres vivos na natureza, onde ela mesma se encarrega de manter o próprio equilíbrio.
Os indígenas, em sua diversidade, compreendiam a importância do respeito à natureza para garantia do alimento, da caça, da moradia e da própria subsistência. E neste universo de mistério, predadores, plantas medicinais e riquezas; a simbiose entre o homem e o meio ambiente, faziam com que a natureza assumisse um papel divino. No mesmo espaço onde existiam tantas perguntas, ao mesmo tempo era o lugar onde estavam as respostas, em um balanço cíclico do nascimento, do crescimento, do envelhecimento e da morte, das metamorfoses provenientes das estações do ano, e do passar das horas ditados pelo despontar até o pôr do sol.
A principal divindade da cultura Asteca é o deus Quetzalcoatl: o Deus Sol; irmão gêmeo de Xolotl, Deus das Trevas e da má sorte.
A origem do nome Quetzalcoalt está na composição por justaposição de duas palavras - quetzal, uma ave de bela plumagem que habita a selva do sudeste de México, e cóatl, que significa “serpente”, sendo traduzido ou interpretado pelos espanhóis como “serpente emplumada”.
Os Astecas veneravam as plumas do Quetzal como uma alegoria do crescimento das plantas. As penas de Quetzal eram muito valiosas e os mais poderosos bordavam-nas em suas vestimentas. Desta maneira, governantes e nobres se distinguiam do resto da população pela aproximação ao Deus Quetzalcóatl nos rituais religiosos e sacrifícios humanos realizados à ele.
Um dos cocares mais famosos era o penacho atribuído a Moctezuma – rei dos astecas, que governou até a chegada dos espanhóis na América. Para conseguir as longas plumas iridescentes, era preciso capturar a ave e depois libertá-la. Matar a um Quetzal era um crime cuja sentença acabava em pena de morte.
No livro “A conquista da América. A questão do outro”, escrito Tzvetan Todorov, a desconstrução do mundo asteca e a conquista do México, liderada por Hernan Cortez, culminou no fim do império de Monteczuma. O autor faz uma análise comparativa entre o a visão dos indígenas e a visão dos espanhóis mediante ao encontro de mundos tão distintos. No que se refere aos indígenas, o historiador utiliza o livro maia Chilam Balam para descrever e apresentar a concepção do mundo asteca e a noção de tempo cíclico, que inclui a relação do homem com a natureza, onde “o mundo é colocado, em princípio, como superdeterminado; os homens respondem a essa situação regulamentando minuciosamente sua vida social. Tudo é previsível. Tudo é previsto. Os astecas conheciam a ordem dos dias.
Este aspecto cultural definiu as distinções hierárquicas na sociedade devido a forte integração do indivíduo com a vida religiosa. Um indivíduo não era igual ao outro, e assumiam papéis distintos na sociedade, determinados não só, pela classe social que ocupavam, mas também, pelas roupas, adornos, tipos de casa.
O futuro do indivíduo era resultado de um passado coletivo que se revelava pelos presságios. E por essa razão o calendário asteca é cíclico, como o ritmo da natureza. Em um mundo voltado para o passado, dominado pela tradição, sobrevém a conquista: um acontecimento imprevisível, surpreendente, único (Todorov, 1999:100) e fatal para sociedade asteca.
Em 1519, quando o conquistador Hernán Cortés chegou ao México, o imperador asteca, Moctezuma Xocoyotzin, acreditou que Cortés era o Deus Quetzalcóatl, o que levou ao genocídio dos astecas pelos espanhóis, a colonização, escravização, assimilação cultural e construção de um novo mundo, cuja base não era mais a relação com a natureza, e sim a expropriação das riquezas naturais.
Dos belos templos que se transformaram em ruínas, o pássaro Quetzal sobrevive relembrando um passado de uma grande civilização.

Fonte: TODOROV, Tzvetan. A conquista da América. A questão do outro. SP, Martins Fontes, 1999.

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