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22 de agosto de 2007

Precisamos conhecer e desmistificar a informação por trás das políticas de cotas nas universidades brasileiras.

As políticas de cotas constituem em braço das ações afirmativas. O objetivo central deste tipo de ação é integrar à sociedade indivíduos pertencentes a grupos sociais definidos por gênero, deficiência física, idade ou características étnicas culturais. O sentido de integração perpassa por um requisito que envolve a noção de uma desigualdade pré-estabelicida na sociedade entre estes indivíduos e o corpo social. Portanto, entende-se que a partir deste mecanismo os indivíduos excluídos conseguiriam alcançar indicadores sociais e econômicos equiparáveis a maioria dos demais indivíduos já incorporados. É interessante perceber que estas políticas não prevêem reverter à ordem capitalista, e sim reservar e repartir espaços com grupos sociais afastados socialmente, onde os indivíduos passam a adquirir oportunidades diferentes, como passagem gratuita para estudantes, caixas eletrônicos especiais para idosos, vagões em metro só para mulheres, e reserva de vagas nas universidades para negros (pobres), indígenas, deficientes físicos e alunos de escolas públicas, entre outros exemplos. Neste sentido, o que incomoda a sociedade em relação às políticas de cotas no Brasil é a repartição, ou seja, a abertura de espaços que já abrigam grupos sociais dominantes para outros então inferiorizados. Sabe por quê? Porque historicamente deveríamos recontar a história de nossa sociedade desvelando a invisibilidade de sujeitos sociais há muito tempo calados. Isto implica em rever conceitos que perpassam por desigualdades sociais muitas vezes justificadas não só pela diferença de classes como também pelo racismo. Chegamos a um ponto central em relação ao debate sobre as políticas de cotas: a cota racial, ou seja, a reserva de vagas para negros, que agora para participar da política devem ser pobres - pelo menos na UERJ. Acredito que existam dois problemas: o primeiro é a centralização do debate pela mídia somente neste tipo de cotas, e o outro é o desconhecimento das reivindicações históricas do negro como sujeito social. No Brasil, os negros segundo o IBGE são a população parda e preta de brasileiros, que unidas registram um percentual que colocam o país no segundo lugar entre os países de maior população negra do mundo, onde só perdemos para Nigéria. Para pensar em racismo no Brasil é necessário voltar a nossas raízes históricas e na nossa construção como nação, buscando entender em que lugar o negro se encontra em nossa formação social. A partir deste entendimento devemos pensar na escravidão não só como uma coisificação do homem, ou como um sistema econômico, mas como um sistema que reuniu famílias africanas e construiu histórias e relações sociais de muitos negros. Olhando os negros como sujeitos históricos, passamos a entender que a sua inserção em uma sociedade dominada por portugueses não foi dificultada apenas pela cor, mas também pelo estigma da escravidão e por políticas que envolveram discursos racistas e teorias voltadas para necessidade de embranquecer a população como forma de torná-la civilizada. Com esta perspectiva, o trabalho livre era visto no final do século XIX e no início do século XX como um sinônimo de desenvolvimento, a ser ocupados por imigrantes europeus e não por ex-escravos ou libertos. Perante esta situação, qual foi a atitude do Estado para integrar os negros na sociedade e garantir-lhes direitos e acesso a cidadania brasileira? Esta questão auxilia a raciocinar sobre a construção do racismo no Brasil. A lacuna histórica justifica a realidade atual, onde a grande maioria da população negra se encontra a margem da sociedade, morando em favelas, ocupando de piores postos de empregos e sofrendo atitudes racistas por sua condição cultural e social. A repartição dos espaços é importante, principalmente pelo convívio e conhecimento de uma identidade que está sendo construída por meio de reivindicações sociais, em torno do que é ser negro. Devo admitir, que ser negro não deve ser fácil, declarar-se como negro tão pouco. Conhecer a si mesmo e a realidade a qual está inserido demanda um estudo crítico das origens, da história e do presente. Assumir a música que mais gosta, as roupas, o cabelo, o bairro onde mora e as discriminações que já sofreu, é um processo de desvendamento de si e de construção de identidade, para que muitos negros possam lutar por seus direitos. E para estes movimentos a política de cotas é um inicio e uma luta em torno do direito à educação pública. Esse direito envolve não só o acesso, mas a manutenção do Estado em relação ao financiamento das políticas sociais, e neste sentido não só as universidades estão envolvidas, mas também as escolas públicas de todo o país. A política de cotas não é um movimento isolado da sociedade, ela é fruto de uma organização social para viabilizar oportunidades.

3 comentários:

Ciranda dos dias disse...

Ei Cla, cade seus outros posts? Sumiu!?

Anônimo disse...

ler todo o blog, muito bom

CÉLIA CARRMEN disse...

Professora este é o link do meu blog.
http://mediandooaprender.blogspot.com
Eu defendo o sistema de cotas. Se hoje eu curso uma faculdade é graças as cotas para alunos que cursaram o Ensino Médio em escola pública.
Sou bolsista Prouni 100% graças a Deus e muito feliz!