A historiografia sobre a África, ainda que em bom número, tem pouca contribuição de historiadores africanos. Os poucos que trabalham nesse sentido foram formados em universidades européias, tendo herdado uma tradição que os fazem ver a história de seus países de fora para dentro. A cultura africana é sem dúvida propagada muito mais oralmente. Recentemente a historiografia africana tem sido revista, e a diversidade cultural tem dado espaço à sobriedade dos relatos em torno da escravidão, pobreza e unidade que rondam o vasto continente africano.
A riqueza da História africana teve inicio com a Pré-História onde o continente africano inicia sua participação histórica como o berço da humanidade. Na Antiguidade, os relatos históricos centralizam-se nos mistérios do Egito do tempo dos faraós. No entanto, os reinos africanos e a África tribal se apresentam atualmente como um novo campo de estudo para os historiadores.
Até o século VII os reinos africanos não tiveram contato com outros povos. A partir desse momento, entretanto, os árabes os alcançam, trazendo consigo o islamismo, e o comércio. Três grandes reinos se desenvolveram na África: Gana, Mali e Songhai. O último assumiu o califado do Sudão. Após aderirem ao Islã – embora as religiões de adoração aos elementos da natureza ainda persistissem (certo sincretismo é notável) – o comércio com o oriente intensifica-se mais ainda, tendo a África vivido um período de relativa prosperidade. Os principais itens comercializados eram o marfim, a noz de cola e os escravos – provenientes dos africanos – os quais eram trocados por tecidos, cobre e pérolas.
Uma nota importante é para existência da escravidão em todo o continente africano. A escravidão na África só foi transformada em comércio com a chegada dos europeus no continente no século XV. As relações de escravidão assumiam formas distintas podendo ocorrer a escravidão por guerras entre reinos ou tribos, onde os vencidos eram capturados como escravos, existia também a escravidão por dívidas e a escravidão voluntária.
O REINO DE GANA
Localização do Reino de Gana. |
O Gana foi provavelmente fundado durante o século IV de nossa era. Entretanto, foi somente no século VII que o reino ganhou representatividade, principalmente devido a suas minas de ouro, fato que chamou a atenção dos árabes.
Quando o comércio com os árabes se intensificou, Gana instituiu um responsável, uma espécie de ministro do comércio, para controlar, através de taxas, as operações de importação e exportação. O Estado era mantido através de um eficiente sistema de cobrança de impostos localizados nos principais entrepostos comerciais de um território não muito bem definido. A organização do reino de Gana era notável, havia subdivisões de governo, com certa autonomia, espécie de províncias, politicamente organizados ao longo do rio Senegal e Niger. As principais atividades eram a agricultura, a mineração, a pecuária e o comércio com os árabes. Gana foi-se mantendo sob o governo dos berberes e dos muçulmanos até 1240 quando o rei do Mali, Sundiata Keita, acabou por conquistá-lo.
O REINO DE MALI
Mesquita de Tombuctu |
O Império Mali foi um estado da África Ocidental, perto do rio Níger, que dominou esta região nos séculos XIII e XIV. De três impérios consecutivos, este foi o mais extenso territorialmente, comparado com o de Songhai e do Gana. O império alcançou o auge no início do século XIV, durante o governo de Mansa Musa, que se converteu ao Islã. Mali controlava as rotas comerciais transaarianas da costa sul ao norte.
Em sua peregrinação a Meca, esse soberano fez-se acompanhar de uma comitiva com 15 mil servos, cem camelos e expressiva quantidade de ouro. Em seu retorno, determinou a construção de escolas islâmicas na capital, a cidade de Tombuctu, que de próspero centro comercial, tornou-se também um centro de estudos religiosos. Mali tornou-se famoso devido à imensa riqueza obtida através do comércio com o mundo árabe.
No início do século XV, o Império do Mali começou a declinar.
O REINO DE SONGHAI
Localização do império de Songhai XIII. |
Do início do século XV até o final do XVI, Songhai foi um dos maiores impérios africanos da história. Este império tinha o mesmo nome de seu grupo étnico líder, os Songhai. Sua capital era a cidade de Gao, onde um pequeno estado Songhai já existia desde o século XI. Sua base de poder era sobre a volta do rio Níger.
Em 1325, quando Mansa Musa volta de sua peregrinação à Meca, submete pelas armas o reino de Songhai à dominação Mali. Os príncipes de Songhai são levados à corte de Mali. Entretanto um deles consegue fugir e, em 1355, reestabelece o reino de Songhai com a dinastia dos Sonnis, que contou com 17 soberanos até 1464. O império de Songhai, porém, só foi constituído durante o reinado de Sonni Ali, o último dos 17 soberanos. Sonni Ali não era religioso, embatia-se com os mussulmanos. Dentre suas conquistas estão todas as cidades às margens do rio Níger com sua frota de navios. Como que por ironia acabou morrendo afogado no próprio rio Níger, em 1492, sem deixar descendência.
Em 1493 assume o poder o general Askia Mohamed, fiel muçulmano. O novo soberano teve grande preocupação em combater o analfabetismo, a fim de que as pessoas pudessem ler o alcorão. Também criou um exército efetivo, em sua maioria composto por prisioneiros e escravos, cujo chefe era seu irmão Omar Mohamed. Em 1497 realizou uma peregrinação à Meca numa comitiva de 1500 homens, incluindo os sábios do reino (médicos, matemáticos, homens de ciência e letras), a fim de que tudo observassem no caminho para trazer melhorias para Songhai.
Askia Mohamed foi então nomeado pelas autoridades do Islã como califa do Sudão, com o objetivo de fazer frente à crescente influência do cristianismo vinda dos países europeus. Coube ainda a esse soberano unificar o sistema de pesagem do reino, a criação de um sistema bancário e de financiamento e reformas no campo da educação – com a criação de escolas superiores, e da universidade de Sankoré, de orientação laica. Seu filho mais velho acabou dividindo o país em guerras civis e depondo seu pai.
Devido ao controle econômico exercido por Songhai, entre outros produtos, do ouro produzido no Sudão ocidental, do sal, artigo de grande importância no deserto, e dos escravos, cuja procura era constante nos territórios islâmicos, o império de Songhai acabou destruído pelo Marrocos em 1591.
Pesquisa realizada no blog: Face ao Vento Ciências Humanas
Nenhum comentário:
Postar um comentário