VÍDEO DOS ALUNOS DO 6o ANO DO COLÉGIO INTERNACIONAL SIGNORELLI. TURMA 2013.
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22 de setembro de 2013
A NOVA REPÚBLICA - 1985 AOS DIAS ATUAIS
A Nova República compreende o
período da História contemporânea, onde o Brasil passou a ser um país
democrático. A população retomou os direitos políticos e civis. O padrão moderno industrial brasileiro era
evidente, no entanto muitos problemas permanecerem como a concentração de
riquezas, pouca representatividade dos partidos políticos, alta inflação, crise
econômica. O gigante continental manteve a relação em que o atraso convive e
movimenta o moderno.
Em 1985 Tancredo Neves foi eleito
presidente do Brasil indiretamente pelo Colégio Eleitoral, encerrando assim a
Ditadura Militar.
Na véspera de tomar posse do
governo, Tancredo Neves adoeceu, e dia depois em 21 de abril de 1985 faleceu. O
vice- presidente José Sarney assumiu o poder colocando fim na censura, no
autoritarismo e o país passou a ter liberdade de expressão, de pensamento e
organização.
Gabeira comenta a eleição de Tancredo, a atmosfera social e cultural, e os desafios do novo presidente para o país com a redemocratização.
O GOVERNO SARNEY
(1985-1990)
José Sarney |
José Sarney governou o Brasil com
o ministério composto pelos mesmos ministros escolhidos por Tancredo.
O Governo Sarney deu inicio a
Redemocratização do Brasil. Foram estabelecidas eleições diretas para todos os
cargos políticos, e aos cidadãos foi dado o direito de votar, o que incluía aos
analfabetos como pontuava a nova constituição.
A Constituição de 1988 é a mais democrática
que o Brasil já teve, sendo caracterizada como “Constituição Cidadã”. Abaixo
observamos alguns dos direitos fundamentais prescritos pela constituição de
1988:
·
A República Federativa do Brasil, formada pela
união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se
em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos:
a soberania; a cidadania; o
pluralismo político.
·
Todo o poder emana do povo, que o exerce por
meio de representantes eleitos diretamente, nos termos da Constituição.
·
São Poderes da União, independentes e harmônicos
entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
·
Pluripartidarismo político. Os partidos possuem
a função de representar os cidadãos no Congresso.
·
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
·
É inviolável a liberdade de consciência e de
crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida,
na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as liturgias;
·
É livre a expressão da atividade intelectual,
artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou
licença;
·
A casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém
nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante
delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por
determinação judicial;
·
É livre o exercício de qualquer trabalho, ofício
ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer;
·
É assegurado a todos o acesso à informação e
resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional;
·
É livre a locomoção no território nacional em tempo
de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou
dele sair com seus bens;
·
Todos podem reunir-se pacificamente, sem armas,
em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não
frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas
exigido prévio aviso à autoridade competente;
·
A prática do racismo constitui crime
inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;
·
Conceder-se-á "habeas-corpus" sempre
que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua
liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;
·
A organização sindical há pelo menos um ano, é
considerada uma entidade de classe ou associação legalmente constituída e em
funcionamento, em defesa dos interesses de seus membros ou associados;
Apesar da consolidação
democrática, no campo econômico os problemas continuaram.
Buscando uma solução para a crise
econômica, em Fevereiro de 1986 o Governo Sarney lançou um plano de
estabilização econômica, conhecido como Plano Cruzado.
O plano previa a introdução de
uma nova moeda, o Cruzado, que tinha o valor de mil cruzeiros antiga moeda.
Pelo Plano Cruzado ficou estabelecido o congelamento de preços e salários.
Estas medidas econômicas não surtiram efeito,
pois a inflação continuou a
crescer.
Com o fracasso do Plano Cruzado,
outros planos econômicos foram elaborados, foi o caso do Plano Blesser e Plano
Verão (Cruzado II) que criou o Cruzado Novo. Neste plano objetivou-se um
reajuste geral dos preços e tarifas, o que determinou um aumento no valor das
mercadorias e dos impostos. A inflação voltou a tingindo uma marca de
hiperinflação, chegando a 23,2% em 1987, e os salários perderam o poder
aquisitivo. A insatisfação era geral e Sarney sem conseguir controlar a crise
econômica, optou por seguir o manual da transição democrática.
O Governo Collor
(1990-1993): O marajá que falsamente dizia-se caçador.
Nas eleições de 1989, Fernando
Collor de Mello foi eleito presidente do Brasil. Em sua campanha política
Collor afirmava que buscaria melhorias na condição de vida do povo brasileiro,
chamado por ele de pés-descalços e descamisados. Além disso, o centro da
propaganda política estava o fim da corrupção e caça aos Marajás, ou
“colarinhos brancos” do Congresso Nacional.
Collor em propaganda política anunciando a caça aos marajás.
A conjuntura econômica era de
forte crise e os organismos internacionais apontavam para um processo de
reestruturação política conhecido como medidas neoliberais.
O Estado deveria estar voltado para acumulação livre de capitais cujo
objetivo era restabelecer as condições de acumulação do capital e reestruturar
o poder das elites econômicas dirigentes do capital, que haviam sido abaladas
com a crise de estagflação do capital iniciada a partir da crise mundial
ocorrida anos de 1970.
Como forma de difundir as ideias neoliberais, o FMI (Fundo Monetário
Internacional) e o Banco Mundial se tornaram os centros de propagação e
implantação do fundamentalismo do livre mercado. Em troca do
realocamento da dívida, os países endividados, em sua maioria os países
periféricos, tiveram que adotar as reformas institucionais como os cortes nos
gastos públicos, leis de mercado de trabalho mais flexíveis e privatização.
Nos anos 1990 o economista norte-americano John Williamson cunhou a
expressão “Washington Consensus” para
referir–se às idéias políticas e econômicas defendidas pelos principais
organismos multinacionais econômicos norte-americanos. As medidas neoliberais
impostas pelo Consenso de Washington representaram algo mais ambicioso do que
apenas renegociar a dívida externa e readmitir os países latino-americanos no
sistema financeiro internacional. Da teoria a pratica o Consenso de Washington
poderia ser resumido pelas principais reformas que foram implementadas nos
países periféricos:
·
A desregulação dos mercados financeiros e do
trabalho.
·
A privatização das empresas e serviços públicos.
·
A abertura comercial.
Ao assumir a presidência, Collor
pôs em pratica o Plano Brasil Novo, conhecido também como Plano Collor. As
medidas neoliberais começaram a ser introduzidas, mas só forma realmente
consolidadas no governo FHC.
O Plano Collor tentou controlar a
inflação e reestruturar o Estado a partir da demissão de funcionários públicos.
Além disso, manteve a abertura ao capital estrangeiro, eliminou o incentivo
fiscal as indústrias, liberou a taxa do dólar e privatizou empresas estatais. O
plano também congelou os salários e preços para reinstituir o cruzeiro como
moeda, e a colocou para circular em menor quantidade. As contas bancárias e
cadernetas de poupanças com saldo superior a 50 mil cruzeiros foram confiscadas.
Inicialmente, as medidas
econômicas tomadas no Governo Collor até surtiram efeito, mas no andamento do
governo a inflação voltou a subir.
Para piorar a situação do
presidente Collor, denúncias de corrupção começaram a aparecer em seu governo. Pedro
Collor, irmão do Presidente Collor, denunciou um esquema de corrupção que tinha
como principal figura Paulo César Farias, tesoureiro da campanha política de
Collor. A descoberta do Esquema PC Farias atingiu diretamente a popularidade de
Fernando Collor.
Demonstrando o descontentamento
com o governo Collor, a população brasileira saiu as ruas para protestar
exigindo renuncia de Collor, ou melhor o impeachment.
O movimento dos Caras Pintadas
pressionou a Câmara dos Deputados, que instaurou uma Comissão Parlamentar de
Inquérito. Na CPI foram levantadas provas que comprovaram a participação de
Collor no Esquema PC. O Congresso Nacional se reuniu e aprovou o Impeachment de
Fernando Collor de Melo.
Em 29 de Dezembro de 1993
Fernando Collor renunciou a presidência deixando o cargo para o seu vice,
Itamar Franco.
O Governo Itamar Franco
(1993-1994)
Itamar Franco |
Com o impeachment de Fernando
Collor, Itamar Franco assumiu a presidência do Brasil.
O Governo Itamar Franco, buscou
uma solução para a crise econômica brasileira
Itamar Franco nomeou Fernando
Henrique Cardoso como Ministro da Fazenda, que junto a um grupo de economistas
elaborou um novo plano econômico, o Plano Real.
O Plano real conseguiu promover a
estabilidade da moeda e criou o URV (Unidade Real de Valor), uma nova moeda que
equivalia ao dólar. Com a nova moeda a população atingiu um melhor poder
aquisitivo e os salários não forma sendo corroídos pela inflação.
Com a alta arrecadação de
impostos, a redução dos gastos na área social e as grandes reservas em dólar, o
Real mantinha-se estável.
Com o sucesso do Plano real,
Fernando Henrique foi lançado como candidato a presidência da república pelo
PSDB e PFL tendo como adversário principal Lula, candidato do PT, que acabou
sendo derrotado no primeiro turno.
O Governo Fernando
Henrique Cardoso (1995-2002): a Era Neoliberal.
Fernando Henrique tomou posse do
Governo em janeiro de 1995.
O governo FHC abriu as portas
para as transformações neoliberais em nosso país.
O governo FHC ficou conhecido
pelo programa de privatização da maioria das empresas estatais como Usiminas,
Vale do Rio Doce, Embraer, entre outras. O Plano Real congelou a inflação, mas
apresentou problemas, pois tornava-se necessário ampliar as reservas de dólar,
o que levou o governo a ampliar a abertura ao capital externo como forma de
captar tais recursos. Além disso, os recursos obtidos com a privatização não
forma investidos em saúde e educação. Eles serviram para ampliar os lucros do
capital especulativo e dos investidores que lucravam com a alta dos juros.
Com a aprovação da emenda de
reeleição, FHC foi reeleito em 1998 com 53% dos votos.
O objetivo da neoliberalização e
romper com as proteções do antigo Estado de Bem Estar. O poder dos sindicatos é
e da classe trabalhadora é restringido e desmantelado no interior do Estado,
inclusive se necessário, pelo poder da violência. O Estado deixa de
proporcionar o bem-estar, e as mudanças tecnológicas introduzidas ampliam o
exército de mão de obra e, consequentemente, a dominação do capital sob o
trabalho no mercado. O trabalho individualizado se vê impotente frente a um
mercado de trabalho que prioriza os contratos a curto prazo, onde a
estabilidade no emprego torna-se coisa do passado. A responsabilidade social
substituiu a proteção social – a seguridade social (saúde, assistência social,
educação, previdência etc); a segurança individual torna-se direito de quem
pode arcar com as despesas de um plano privado.
É comum classificar o trabalhador
no âmbito da neoliberalização como trabalhador descartável, ou seja, homens e
mulheres que sobrevivem no mundo dos mercados de trabalho flexíveis, sob
inseguranças crônicas no emprego, perda dos direitos e proteção social,
deixados a própria sorte sob o controle das leis de mercado.
Há, portanto, uma clara
incompatibilidade entre os direitos e neoliberalismo. A preocupação neoliberal
com o indivíduo se sobrepõe à democracia social, a igualdade de direitos e as
solidariedades sociais, levando o discurso da defesa pelos direitos a uma
bandeira idealista, pois as decisões legais tendem a favorecer direitos de
propriedade privada e de taxa de lucro em detrimento dos direitos à igualdade e
justiça social.
A defesa dos mecanismos de
proteção social tem se confundido com a proliferação de ONGs como depositárias
de serviços e reivindicações de ocupação do espaço público, com a
despolitização das demandas de classe, com a fragmentação das lutas sociais, a
relativização e moralização de direitos humanos, o reforço da família como foco
neoconservador, falta de respeito à diversidade cultural e de gênero, criação
de rótulos sociais e marginalização, perda dos direitos nos processo de
espoliação, etc.
O discurso neoliberal utiliza o
conceito de liberdade individual para opor-se aos mecanismos de ação coletiva
para manutenção da proteção social. A teoria de liberdade individual no
neoliberalismo determinou a responsabilização do ‘individuo desprotegido’ a
sobrevivência nas relações de mercado. O Estado não se ausentou em nenhum
momento ao longo do processo de neoliberalização. Pelo contrário, ele
mostrou-se ativo na manutenção da acumulação capitalista por espoliação e das
próprias relações de mercado, reestruturando-se de modo a retrair-se das
responsabilidades com as políticas de proteção social.
A análise prática da adoção das
políticas neoliberais e suas consequencias de demonstraram nefastas ao conjunto
das relações sociais, políticas e econômicas. Observando a movimentação da
sociedade civil por mudanças que revertam à lógica de mercado, a
neoliberalização desencadeou uma onda de movimentos de oposição dentro e fora
de sua área de influência. Neste sentido, que alternativas e ações estão sendo
feitas pelos diferentes movimentos sociais?
As lutas contra a acumulação por
espoliação estão fomentando linhas de combate político e sociais bem distintas
entre si como o movimento zapatista no México, o Movimento dos Trabalhadores
Sem Terra (MST) no Brasil, o Greenpeace, o Fórum Social Mundial, etc,
movimentos sociais com linhas e estratégias diferenciadas de ação.
O Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra nasceu em Cascavel no Paraná, quando um grupo de trabalhadores
rurais se reuniu para formar um movimento que lutasse contra o latifúndio e
pelos direitos dos trabalhadores rurais frente à mecanização e expropriação do
campo. O objetivo do movimento é realizar a reforma agrária como uma política
de governo, que priorizasse a policultura e o assentamento dos camponeses em
latifúndios improdutivos, que podem ser transformados em cooperativas. Hoje
o MST é um dos movimentos mais organizados e conhecidos no mundo.
O movimento ambientalista surgiu
como forma de combater o capitalismo destrutivo, consumista, do desperdício,
que contribui para destruição direta do meio ambiente através da utilização de
recursos naturais de forma desenfreada pelas indústrias. A imagem apresenta o
protesto do grupo de ativistas ambientalistas do Greenpeace, um movimento
conhecido mundialmente, e que realiza operações importantes para proteger o
meio ambiente.
O movimento em defesa aos
direitos e reconhecimento social e legal dos homossexuais realiza uma pressão
social importante pela defesa da diversidade e da liberdade sexual. A imagem
apresenta a Parada Gay, um evento realizado em todo o Brasil para celebrar o
orgulho gay. Na foto a passeata reuniu milhares de pessoas na cidade de São
Paulo.
O efeito destes movimentos
sociais tem sido afastar-se da política de partidos políticos e organizações
tradicionais dos trabalhadores para o terreno de uma política de ação social
mais próxima da sociedade civil. Eles extraem sua força da profunda inserção no
cerne da vida cotidiana, mas encontram dificuldade em se afastar do local e do
particular para entender a macropolítica e a verdadeira essência da acumulação
por espoliação neoliberal em sua restauração do poder de classe. O foco de
defesa e luta destes movimentos sociais é pertinente, no entanto é tão variado
que também dificulta a relação entre estes diferentes movimentos sociais.
A década de 1990 trouxe ao Brasil
uma nova reconfiguração do Estado, um governo democrático jovem que renascia
com a campanha das Diretas Já em 1985 junto ao fim da ditadura militar. Em 1988
o Brasil sob um regime democrático adotava uma nova constituição denominada
como “Constituição Cidadã”. A palavra cidadania representava a vontade geral de
alcançar direitos comuns como à liberdade, os direitos civis, os direitos
políticos.
Votar e participar ativamente da
política do país era a bandeira de ordem dos brasileiros que acreditavam que
elegendo prefeitos, governadores e o presidente da República garantiriam a
liberdade, a segurança, o desenvolvimento econômico, o emprego, a justiça
social. Mas o exercício do voto não garantiu a existência de governantes
atentos aos problemas da população, por isso é importante refletir sobre o
problema da cidadania, sua história e perspectiva no Brasil, para então
compreendermos o panorama de nosso país frente à neoliberalização, que como
consequência trouxe a assistencialização
das políticas sociais e a precarização do Estado.
O Governo de Luiz Inácio
Lula da Silva (2003-2010)
No ano de 2002, as eleições
presidenciais agitaram o contexto político nacional. A falta de ação na área
social, os planos de privatização, entre outras medidas que cercavam o governo
FHC abriram lacunas para que Lula chegasse ao poder com a promessa de dar um novo
rumo à política brasileira. O desenvolvimento econômico trazido pelo Plano Real
tinha trazido grandes vantagens à população, sobretudo a classe média e alta,
entretanto, alguns problemas com o aumento do desemprego, o endividamento do
Estado, a manutenção da concentração de renda denunciavam o governo FHC,
sobretudo a questão da assistencialização a pobreza
Lula se tornou presidente do
Brasil e sua trajetória de vida aproximava os eleitores mais pobres que
desejavam mudanças e políticas que melhorasse a as condições de vida dos mais
pobres.
Entre as primeiras medidas
tomadas, o Governo Lula anunciou um projeto social destinado à melhoria da
alimentação das populações menos favorecidas. Estava lançada a campanha “Fome
Zero”. Esse seria um dos diversos programas sociais que marcaram o seu governo.
A ação assistencialista do governo se justificava pela necessidade em sanar o
problema da concentração de renda que assolava o país.
No entanto, o discurso de
assistencialização não trouxe direitos e sim, uma ampliação do poder de compra
das classes mais pobres a partir de políticas sociais, que ao possuem como
ponto central a concessão de bolsas.
O populismo assistencialista de
Lula não converteu o avanço do projeto neoliberal no país iniciado por FHC.
No ano de 2005, o governo foi
denunciado por realizar venda de propinas para conseguir a aprovação de
determinadas medidas. O esquema ficou conhecido como “Mensalão”, e iniciou um
acalorado debate político que questionava o governo e o PT enquanto partido.
Em meio a crise política e
acusações de corrupção, deposição de José Dirceu, braço direito de Lula e
ministro da Casa Civil, Lula conseguiu se reeleger.
O novo mandato de Lula é visto
como uma tendência continuísta do primeiro.
O Governo Lula marcou uma
importante etapa para a experiência democrática no país e aos olhos do presente
torna-se necessário uma crítica de suas políticas e ações como justificativa de
um desenvolvimento social na esfera capitalista.
Abaixo, incluo
os olhares do Frei Beto, um importante um escritor e religioso dominicano brasileiro,
que mantém convicções de esquerda. Frei Beto é adepto da Teologia da Libertação
e militante de movimentos pastorais e sociais, tendo ocupado a função de
assessor especial do presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva entre 2003
e 2004. Foi coordenador de Mobilização Social do programa Fome Zero.
Esteve preso por
duas vezes sob a ditadura militar: em 1964, por 15 dias; e entre 1969-1973.
Após cumprir quatro anos de prisão, teve sua sentença reduzida pelo STF para
dois anos.
Destaco cinco pontos nos quais o governo Lula me pareceu altamente
positivo e outros cinco nos quais não correspondeu às expectativas. Estou
convencido de que constituíram iniciativas que não poderão ser ignoradas pelo
governo Dilma e outros que a sucederão.
1. Renda aos mais pobres - através do Bolsa Família e demais políticas
sociais, transferiu-se considerável soma de recursos para as famílias mais
pobres do Brasil, a ponto de retirar 20 milhões de pessoas da miséria. Embora o
Bolsa Família distribua como renda apenas 0,4% do PIB, e a seguridade social
7%, o fato é que, hoje, 70% das moradias possuem eletrodomésticos como
geladeira, TV, fogão e máquina de lavar roupa. O aumento anual do salário
mínimo acima do índice da inflação dilatou o poder de consumo da população
brasileira.
2. Estabilidade econômica - a inflação manteve-se abaixo de 5% e o
salário mínimo corresponde, hoje, a mais de US$ 200. Isso permitiu ao
consumidor planejar melhor suas compras, o que foi facilitado por uma política
de créditos consignados e a longo prazo, apesar de as taxas de juros serem
ainda elevadas.
3. Não criminalização dos movimentos sociais - embora as ocupações do
MST, dos movimentos de moradia e de barragens causassem inquietação às
autoridades, não houve repressão policial-militar e o governo buscou, ainda que
timidamente, diálogo com lideranças populares.
4. Soberania - ao rechaçar a ALCA e zerar as dívidas do Brasil com o
FMI, o governo Lula afirmou o Brasil como país soberano e independente. O que
lhe permitiu manter confortável distância da Casa Branca e se aproximar da
África, dos países árabes e da Ásia, a ponto de enfraquecer o G8 e fortalecer o
G20, do qual participam países em desenvolvimento.
Estreitou relações com a África do Sul, a Índia e a China, e
rompeu o “eixo do mal” de Bush ao defender Cuba, Venezuela e Irã.
5. Falar à alma do povo - Lula preferiu abandonar os discursos escritos
e as rubricas protocolares para alimentar sua empatia com o cidadão comum,
utilizando uma linguagem popular, sem “economês” ou expressões acadêmicas.
Muitas vezes externou seus sentimentos sem pudor, deixou que a emoção o levasse
às lágrimas e a raiva o fizesse usar as mesmas expressões que a gente simples
do povo usa quando lhe pisam no calo.
Há, porém, o outro lado da moeda, os cinco aspectos que considero falhos:
1. Governo contraditório - Lula nomeou ministros de tendências
políticas e ideológicas antagônicas, como Stephanes, na Agricultura, e Cassel,
na Reforma Agrária; Mantega, na Fazenda, e Henrique Meirelles, no Banco
Central; Jobim, na Defesa, e Vannuchi nos Direitos Humanos.
2. Arquivos da ditadura – embora integrado por inúmeras vítimas da
ditadura militar, a começar do presidente da República, o governo Lula jamais
usou sua prerrogativa de comandante supremo das Forças Armadas para obrigá-las
a abrir os arquivos dos anos de chumbo. Nem apoiou iniciativas para que os
responsáveis pelos crimes da ditadura fossem levados à barra dos tribunais.
3. Reformas estruturais – o governo termina sem que, nos oito anos de
mandato, tenha sido feita qualquer reforma estrutural, como a agrária, a
política, a tributária etc. Se os mais pobres mereceram recursos anuais de R$
30 bilhões, os mais ricos, através do mercado financeiro, foram agraciados, no
mesmo período, com mais de R$ 300 bilhões, o que evitou a redução da
desigualdade social.
4. Educação – o investimento no setor não superou 5% do PIB, quando a
Constituição exige ao menos 8%. Embora o acesso ao ensino fundamental tenha se
universalizado, o Brasil se compara, no IDH da ONU, ao Zimbabwe em matéria de
qualidade na educação. Os professores são mal remunerados, as escolas não
dispõem de recursos eletrônicos, a evasão escolar é acentuada. Os programas de
alfabetização de adultos fracassaram e o MEC se mostrou desastrado na aplicação
do Enem. De positivo, a ampliação das escolas técnicas e das universidades
públicas, o sistema de cotas e o ProUni.
5. Saúde – o SUS continua deficiente, enquanto o atendimento de saúde é
progressivamente privatizado. Hoje, 44 milhões de brasileiros estão inscritos
em planos de saúde da iniciativa privada. Mais de 50% dos domicílios do país
não possuem saneamento, os alimentos transgênicos são vendidos sem advertência
ao consumidor, os direitos das pessoas portadoras de deficiências não são
devidamente assegurados.
Espero que o governo Dilma possa dar aprimoramento aos avanços do
governo Lula e corrigir as falhas, sobretudo na disposição de efetuar reformar
estruturais. Tomara que ela consiga superar a deficiência congênita de sua
gestão: o matrimônio, por conveniência eleitoral, entre o PT e o PMDB.
VIDEOS DE HISTÓRIA: REDEMOCRATIZAÇÃO POR BORIS FAUSTO.
20 de setembro de 2013
A DITADURA MILITAR (1964/ 1985)
ANTECEDENTES E CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA.
A Ditadura Militar
foi o período da história brasileira, onde os direitos civis e políticos foram
perdidos, pessoas foram torturadas, e a censura imperava como forma de controle.
O golpe civil- militar teve apoio da classe média e alta, que via nas medidas
sociais propostas por Jango com as Reformas de Base, em um suposto golpe
comunista. Mas vale a pena uma reflexão, por que medidas sociais não podem ser
implementadas para garantia dos direitos básicos da população de forma a
amenizar as desigualdades subjacentes do capitalismo? Na conjuntura de Guerra
Fria, investimento em políticas sociais desvirtuava o planejamento de
modernização industrial alicerçado na abertura ao capital estrangeiro e na
dependência externa, e por isso o desenvolvimento social poderia simbolizar um
ameaça.
Abaixo
observamos alguns dos aspectos conjunturais que contribuíram para o golpe de
1964:
•
Esgotamento do populismo: manifestações de massa,
greves, agravamento de tensões sociais.
•
Temor dos EUA com a possibilidade de “novas revoluções
cubanas” na América Latina.
•
Apoio de setores civis conservadores ao golpe militar.
•
Doutrina de Segurança Nacional é assimilada pelo
exército: Guerra total contra o comunismo.
A ditadura
marcou uma época de fechamento político através da implementação dos vários
Atos Institucionais que colocavam em prática a censura, a perseguição política,
a supressão de direitos constitucionais, a falta total de democracia e a
repressão àqueles que eram contrários ao regime militar.
A Ditadura Militar
teve início com o golpe militar de 31 de março de 1964, resultando no
afastamento do Presidente da República,João Goulart, onde o Marechal Castelo
Branco assumiu por eleições indiretas o poder. Este golpe de Estado, foi
caracterizado por muitos cientistas sociais como uma revolução fora ordem, ou
uma revolução burguesas, como afirmou Florestan Fernandes, que perdurou até a
eleição indireta de Tancredo Neves em 1985.
A liberdade de
expressão e de organização era quase inexistente. Partidos políticos,
sindicatos, agremiações estudantis e outras organizações representativas da
sociedade foram suprimidas ou sofreram interferência do governo. Os meios de
comunicação e as manifestações artísticas foram reprimidos pela censura. Paralelo
ao controle social, a década de 1960 iniciou um período de grandes
transformações na economia brasileira, determinada pela modernização da
indústria e dos serviços, da manutenção da concentração de renda, de abertura
ao capital estrangeiro e do endividamento externo, da ampliação do acesso aos
bens de consumo duráveis, do congelamento dos salários, ampliação do crédito e
crescimento da inflação.
Analisaremos a
seguir as fases dos governos militares e os feitos históricos que marcaram esta
conjuntura política, social e econômica da História do Brasil.
FASES E GOVERNOS MILITARES:
1) GOVERNO CASTELLO BRANCO (1964-1967)
General Castelo Branco |
Após a tomada de
poder pelos militares, foi estabelecido o AI-1, que permitia ao governo militar
modificar a constituição, anular mandatos legislativos, interromper os direitos
políticos por 10 anos, além de demitir, colocar em disponibilidade ou aposentar
compulsoriamente qualquer pessoa de cargo público que fosse contra a segurança
do país. Com este Ato Institucional as eleições para a presidência da República
tornaram-se indiretas.
Com o regime
militar, ocorreu um fortalecimento do poder central, sobretudo do poder
Executivo. Ao poder Executivo se atribuiu a função de legislar, em detrimento
dos outros poderes, minando ação de divisão de poderes. O Alto Comando das
Forças Armadas passou a controlar a sucessão presidencial, indicando um
candidato militar que era referendado pelo Congresso Nacional.
Castello Branco,
general militar, foi eleito pelo Congresso Nacional presidente da República em
15 de abril de 1964. Os militares acreditavam estar tomando o poder em função
da garantia da democracia, porém o autoritarismo prevaleceu, o que determinou
que muitos historiados nomeassem essas ações ditadura disfarçada, o que logo se transformou em ditadura
escancarada.
Os partidos
políticos foram dissolvidos com a adoção do AI-2, em 1965, e foi instituído o
bipartidarismo composto por dois partidos: Movimento Democrático Brasileiro
(MDB) e a Aliança Renovadora Nacional (ARENA). Enquanto o primeiro era de
oposição, de certa forma controlada, o segundo representava os militares.
Vários
parlamentares federais e estaduais tiveram seus mandatos cassados, cidadãos
tiveram seus direitos políticos e constitucionais cancelados e os sindicatos
receberam intervenção do governo militar.
Com AI-3,
adotado em 1963, as eleições para prefeito e governador tornaram-se indiretas.
O governo
militar impôs, em janeiro de 1967, uma nova Constituição para o país, que foi
outorgada e institucionalizou o regime militar no país, respaldando, a censura,
o fim do habeas corpus, a legitimidade dos atos institucionais, e a supressão
dos direitos políticos e civis. Foi aprovada também a Lei de Segurança Nacional,
que instituía a repressão consentida aos comunistas ou possíveis indivíduos que
ameaçassem a ordem.
Como forma de controlar a crise econômica decorrente da lata da inflação, o governo Castelo Branco implementou o PAEG – Plano de Ação econômica do Governo, que atuou da seguinte forma:
· Instituiu o corte de gastos, aumentou as tarifas e impostos.
· Criou o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço).
· Aprovou o aumento salarial (1X ao ano) abaixo da inflação.
· Restringiu o crédito.
· Pôs fim a Lei de Remessa de Lucros (1962).
· Aprovou a compra de empresas nacionais por estrangeiras.
· Renegociou a dívida externa.
· Adotou novos empréstimos com o capital estrangeiro.
· Ratificou a aproximação com EUA.
GOVERNO COSTA E SILVA (1967-1969)
General Costa e Silva |
Em 1967, o
general Arthur da Costa e Silva assumiu a presidência. Seu governo foi marcado
por protestos e manifestações sociais no ano de 1968. A oposição ao regime
militar cresceu no país. A UNE (União Nacional dos Estudantes ) organizou, no
Rio de Janeiro, a Passeata dos Cem Mil. Em Contagem (MG) e Osasco (SP), greves
de operários paralisam fábricas em protesto ao regime militar.
No dia 13 de dezembro
de 1968, o governo decretou o Ato Institucional Número 5 (AI-5). Este foi o
mais duro dos atos institucionais, onde o habeas corpus foi suspenso por crime
político, a censura aos meios de comunicação foi instituída; a liberdade de
expressão, associação e opinião foi cerceada, mandatos políticos forma cassados
e os direitos políticos, sobretudo ao voto, foram suprimidos. Com o AI-5 a ditadura perdia o disfarce.
Líderes estudantis foram presos, a repressão policial aumentou, e a censura
controlava jornais, rádios e a televisão.
A guerrilha
urbana foi um tipo de luta armada contra a ditadura, sendo formada por jovens
idealistas de esquerda, que como forma de burlar a censura e conseguir mostrar
a sociedade a real face da ditadura. Os participantes roubavam bancos, sequestravam
pessoas, afim de libertar presos políticos. Os movimentos mais conhecidos de
luta armada forma Era o Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR-8), a Ação
Libertadora Nacional (ALN) e a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). A ALN
participou de dois dos sequestros realizados no país. O primeiro foi realizado
junto com o MR-8, onde o embaixador norte americano Charles Burke Elbrick foi
sequestrado , em setembro de 1969. Com o seqüestro, os jovens conseguiram a
libertação de 15 presos políticos. A segunda ação foi o com embaixador alemão
Ehrefried Von Holleben, onde 40 presos políticos forma libertados. Em 4 de setembro
de 1969 , amigos de Carlos Marighella , (um dos criadores da luta armada e líder
da ANL) foram obrigados pelos militares, sobre ameaça e tortura, a preparar uma
emboscada para o mesmo . Ao chegar ao local de encontro, Marighella foi atingido
por vários tiros e morreu. A maioria dos participantes da ALN também morreu, já
o integrantes do MR-8 continuaram atuando.
Doente, Costa e
Silva foi substituído por uma junta militar formada pelos ministros Aurélio de
Lira Tavares (Exército), Augusto Rademaker (Marinha) e Márcio de Sousa e Melo
(Aeronáutica). Em 1969, a
Junta Militar escolheu o novo presidente ícone da linha dura entre os militares:
o general Emílio Garrastazu Medici.
2) GOVERNO MEDICI (1969-1974): “OS ANOS DE
CHUMBO”
O governo Médici
foi considerado o mais duro e repressivo do período militar, sendo
caracterizado como "os anos de chumbo". A repressão à luta armada
cresceu e uma severa política de censura foi colocada em execução. Jornais,
revistas, livros, peças de teatro, filmes, músicas foram censuradas. Muitos
professores, políticos, músicos, artistas e escritores foram investigados,
presos, torturados e tiveram que ser exilados do país. O DOI-CODI (Destacamento
de Operações e Informações e ao Centro de Operações de Defesa Interna) atuou como
centro de investigação e repressão do governo militar.
A marca do
governo Médici foi o binômio: segurança e desenvolvimento.
Para justificar
as ações repressivas do governo, slogans ufanistas compunham a propaganda do
governo para afirmar o crescimento econômico, tais como: “Brasil: Ame-o ou
deixe-o” e “Ninguém segura esse país!”.
Propaganda do governo Médici. |
A valorização de
conquistas esportivas como da Copa de 1970, e o sucesso no automobilismo,
serviam como vitrine para o governo associar as vitórias com o aparente sucesso
econômico, viabilizado pelo crescimento do PIB em 10%.
Neste período a
guerrilha rural ganhou força, com destaque a guerrilha do Araguaia. Esta
guerrilha foi a tentativa de dissidentes do Partido Comunista do Brasil (PC do B)
de organizar uma luta armada no campo para enfrentar a ditadura militar que
governava o Brasil em 1968. Durante sete anos, quase cem guerrilheiros tentaram combater a ditadura
no improviso. Em 1968, alguns líderes do PC do B, como Maurício
Grabois e João Amazonas, se desligam do partido para formar grupos de
resistência armada em regiões rurais. Os grupos se espalham próximos às margens
do rio Araguaia, onde hoje se juntam os estados do Pará, do Maranhão e de
Tocantins. Paulistas, mineiros e gaúchos eram a maioria.
Para conquistar
o apoio dos camponeses, além da amizade, os guerrilheiros utilizaram a profissão
que atuavam, alguns deles eram médicos, por exemplo, para atender às
necessidades locais.
Os
guerrilheiros, vindos da classe média alta, bancaram as próprias armas, e não
possuíam treinamento.
Numa emboscada
ao comunista Carlos Marighella, os militares descobriram documentos com pistas
sobre a guerrilha, confirmadas com a prisão e a tortura do ex-guerrilheiro
Pedro Albuquerque. O Departamento de Inteligência e Repressão do Exército se
infiltrou nas comunidades do Araguaia e comprou informações dos camponeses,
descobrindo paradeiro e identidade dos guerrilheiros
Até 1975, três
campanhas foram realizadas para acabar com a guerrilha. Após reconhecimento da
área e coleta de informações, a segunda campanha foi à caça com tropas de
operação em selva.
Começaram as torturas, com destaque para um pau-de-arara
melado
A captura de
Osvaldão (Osvaldo Orlando da Costa) - um dos poucos treinados pelo Exército
chinês, abalou o moral dos guerrilheiros. Ele foi morto em 1974 e teve o corpo
amarrado em um helicóptero para ser exibido nos vilarejos.
A Operação
Marajoara utilizou a tática de emboscadas pesadas de militares sem farda, tortura
e execução - até de camponeses para identificar os poucos guerrilheiros que
ainda resistiram escondidos na mata. Os oficiais cortaram a cabeça e mãos das
vítimas e as enfiaram em sacos que seguiram para identificação pelo Exército.
Segundo os militares, mais de 80 guerrilheiros morreram nas operações.
Familiares e organizações de direitos humanos tentam, até hoje, localizar e
identificar corpos de "desaparecidos". Dossiês e depoimentos de
ex-militares envolvidos nas operações estão vindo à tona pela imprensa e pelo
cinema
O Milagre Econômico
Com empréstimos
externos, o governo Médici realizou grandes investimentos nos setores petroquímicos,
siderúrgicos, de transportes, na construção naval e mineração. Na área de comunicação
a Embratel (Empresa Brasileira de Comunicação) foi criada e ligou o Brasil via
satélite. Outras empresas estatais forma criadas como a Telebrás, e as que já
existiam se fortaleceram. No setor agrícola, o aumento das exportações com a
modernização do campo contribuíram para o surgimento do agronegócio, que
conjugava a concentração fundiária com altos investimentos.
O país crescia
rapidamente. Este período que compreende os anos de 1969 a 1973 ficou conhecido
como Milagre Econômico. O PIB brasileiro crescia a uma taxa de quase 12% ao
ano, enquanto a inflação beirava os 18%. Com investimentos internos e
empréstimos do exterior, o país avançou e estruturou uma base sólida de
infra-estrutura com a construção de obras faraônicas como a Rodovia Transamazônica
e a Ponte Rio-Niteroi.
Porém, todo esse
crescimento teve um custo altíssimo e a conta deveria ser paga no futuro. Os
empréstimos estrangeiros geraram uma dívida externa elevada para os padrões
econômicos do Brasil. Inúmeras empresas multinacionais se instalaram no Brasil
e controlavam o mercado de bens de consumo duráveis. Ao mesmo tempo que a
dependência cultural e econômica girava o motor de crescimento econômico brasileiro,
a educação e a saúde pública permaneciam abandonadas, enquanto o setor privado tomava
conta de escolas, hospitais e planos de saúde.
Neste cenário, a
estabilidade econômica só atingia uma classe: a classe média e a burguesia
empresarial. Os trabalhadores industriais e técnicos até puderam desfrutar do “milagre”,
devido ao crescimento industrial, no entanto, as classes baixas tiveram
dificuldades de acompanhar esta onda de consumo, e os pequenos trabalhadores
rurais foram engolidos pelo agronegócio.
Os trechos
destacados da música de Tom Zé “Parque Industrial” composta em 1968 sintetiza
bem a ideia de Milagre Econômico.
“Retocai o céu de anil, bandeirolas no
cordão, grande festa em toda a nação. Despertai com orações o avanço industrial
vem trazer nossa redenção.
Tem garota-propaganda, aeromoça e ternura no
cartaz. Basta olhar na parede, minha alegria num instante se refaz. Pois temos
o sorriso engarrafadão já vem pronto e tabelado é somente requentar e usar. É
somente requentar e usar. Porque é made, made, made, made in Brazil. Porque é
made, made, made, made in Brazil”.
Nos anos de 1970, as crises do
petróleo abalaram o Milagre Econômico. O crescimento industrial exigiu uma relação direta
entre o moderno e o atrasado, pois o moderno cresce e se alimenta do
atrasado. A industrialização brasileira determinou no período de 1930 a 1970 um
desenvolvimento igual e combinado, que assegurou a preservação da grande propriedade
a nível urbano e rural, relacionando-a a industrialização, garantindo a manutenção
do latifúndio e a intensa exploração dos trabalhadores rurais.
Nos anos de 1970 o programa industrial
brasileiro começou a dar sinais de esgotamento e também a acompanhar a crise
capitalista mundial. A crise estava associada à reestruturação produtiva como
forma de garantir a acumulação. O governo brasileiro não possuía dinheiro para
investir na infra-estrutura destas empresas. A economia industrial
internacional para sair da crise mundial aderiu ao processo de flexibilização
da produção associada à reconfiguração do Estado. No caso do Brasil, o governo
apelou para os empréstimos, inicialmente a juros baixos, estas taxas foram
aumentando por serem flutuantes passando de 2,7% ao ano em 1970, para 21% em
1981, o que levou a país a passar por um processo de estagflação.
3) GOVERNO GEISEL (1974-1979)
General Ernesto Geisel |
Em 1974 assume a
presidência o general Ernesto Geisel começou um lento processo de transição
rumo à democracia. O governo coincidiu com o fim do milagre econômico e com a
insatisfação popular. A crise do petróleo e a recessão mundial interferiram na
economia brasileira, no momento em que os créditos e empréstimos internacionais
diminuíram.
No momento de crise, em 1978, teve inicio uma reação dos trabalhadores
na região do ABC em São Paulo. O
movimento grevista lutava contra a direção sindical pelega e as condições de
trabalho dos operários, em especial, as demissões. Neste contexto de greves no
ABC surge a liderança de Luis Inácio Lula da Silva no movimento sindical
brasileiro, e em 1980 nasce o Partido dos Trabalhadores (PT). A experiência do
PT trouxe uma nova experiência político-partidária, pois os dirigentes do partido
eram os próprios trabalhadores, que defendiam um governo democrático e popular
em oposição ao governo burguês autoritário. A importância massiva dos
trabalhadores e de sindicatos na construção do PT reforça o caráter classista
do partido, que atuava no sentido de estabelecer diretrizes anticapitalistas.
Na imagem Lula enquanto líder do sindicato dos metalúrgicos do ABC, discursa aos trabalhadores desencadeando uma ação importante pela luta por direitos. |
Geisel anunciou
a abertura política lenta, gradual e segura. A oposição política começou a
ganhar espaço. Nas eleições de 1974, o MDB conquistou 59% dos votos para o
Senado, 48% da Câmara dos Deputados e ganhou a prefeitura da maioria das
grandes cidades.
Os militares de
linha dura, descontentes com os caminhos do governo Geisel, começaram a
promover ataques clandestinos aos membros da esquerda. Em 1975, o jornalista
Vladimir Herzog foi assassinado nas dependências do DOI-CODI em São Paulo.
Os exemplos de abertura lenta e gradual
estiveram relacionados com a tentativa dos militares de manterem o controle do
governo. Em 1976, foi criada a Lei
Falcão que limitava a propaganda política. Em 1977, o governo lançou o Pacote de Abril: que determinou o fechamento
do Congresso, ampliava o mandato presidencial de 4 para 6 anos, e criou os “senadores biônicos”, que elegeu
indiretamente senadores aliados aos militares para compor a maioria no
congresso
Em 1978, Geisel
acabou com o AI-5, restaurou o habeas-corpus e abriu caminho para a volta da
democracia no Brasil. O binômio segurança e desenvolvimento foram dissolvidos
diante da própria conjuntura de crise mundial e necessidade de reconfiguração
do Estado.
4) GOVERNO FIGUEIREDO (1979-1985)
General João Baptista Figueiredo |
A popularidade do
MDB nas eleições em 1978 começou a acelerar o processo de redemocratização. Movimentos
sociais com reivindicações específicas, como o movimento feminista, dos
trabalhadores, dos negros, traziam uma agenda nova para o governo, que não se
enquadrava ao autoritarismo.
O general João
Baptista Figueiredo decretou a Lei da Anistia, concedendo o direito de retorno
ao Brasil para os políticos, artistas e demais brasileiros exilados e
condenados por crimes políticos. Os militares de linha dura continuaram com a
repressão clandestina para frear o processo de redemocratização do país. Insatisfeitos
com a evidente abertura política, cartas-bomba foram colocadas em órgãos da
imprensa e da OAB (Ordem dos advogados do Brasil). No dia 30 de Abril de 1981,
uma bomba explodiu durante um show no centro de convenções do Rio Centro. O
atentado foi promovido por militares de linha dura. Uma das bombas explodiu
dentro do carro onde estavam os dois militares, no estacionamento do Riocentro.
O artefato, que seria instalado no edifício, explodiu antes da hora, matando um
dos militares e ferindo gravemente o outro.
Em 1979, o
governo aprovou uma lei que restabeleceu o pluripartidarismo no país. Os
partidos voltaram a funcionar dentro da normalidade. A ARENA mudou o nome para
PDS (Partido Democrático Social), enquanto o MDB tornou-se o PMDB (Partido do
Movimento Democrático Brasileiro). Outros partidos foram criados, como: Partido
dos Trabalhadores (PT) e o Partido Democrático Trabalhista (PDT).
O saldo econômico
do governo Figueiredo foi extremamente negativo. O governo mantinha a política
de empréstimos, só que com a crise mundial, os países desenvolvidos cobravam muito
caro para emprestar dinheiro, a inflação era altíssima, e o desemprego se
tornava uma realidade.
A REDEMOCRATIZAÇÃO E A CAMPANHA PELAS
DIRETAS JÁ
Nos últimos anos
do governo militar, o Brasil apresenta vários problemas de ordem econômica, política
e social. A oposição ganhou terreno com o surgimento dos novos partidos e com o
fortalecimento dos sindicatos.
Em 1984,
políticos de oposição, artistas, jogadores de futebol e milhões de brasileiros
participam do movimento das Diretas Já. O movimento defendia a aprovação da
Emenda Dante de Oliveira que garantiria eleições diretas para presidente
naquele ano. Para a decepção do povo, a emenda não foi aprovada pela Câmara dos
Deputados.
Movimento das Diretas Já! |
No dia 15 de
janeiro de 1985, o Colégio Eleitoral de forma indireta escolheu o deputado
Tancredo Neves, que concorreu com Paulo Maluf (PDS), para o cargo de presidente
da República. Ele fazia parte da Aliança Democrática – o grupo de oposição
formado pelo PMDB e pela Frente Liberal.
Era o fim do
regime militar. Porém Tancredo Neves ficou doente antes de assumir a presidência
e acabou falecendo. O vice-presidente José Sarney assumiu em seu lugar com
muitos problemas a serem resolvidos e um povo cheio de esperanças. Em 1988 foi
aprovada uma nova constituição para o Brasil. A Constituição de 1988 apagou os
rastros da ditadura militar e estabeleceu princípios democráticos no país sendo
caracterizada como a “ Constituição Cidadã”, que vigora até os dias atuais.
VÍDEOS SOBRE DITADURA MILITAR:
BÓRIS FAUSTO: DITADURA MILITAR.
TELE AULA: O REGIME MILITAR
TELE AULA: ABERTURA POLÍTICA.
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