A Palestina apagada do mapa
In: Blog da
Boitempo:
Escrito por
Guilherme Boulos
Já passam de 1.200 palestinos mortos na
faixa de Gaza desde o dia 8 de julho. Entre eles centenas de crianças. Os
bombardeios de Israel não pouparam nem escolas e hospitais, supostamente “bases
para terroristas”. Ontem atacaram um abrigo da ONU, matando 19 palestinos. O
Comissário da Agência da ONU para os refugiados disse que crianças foram mortas
enquanto dormiam. Não satisfeitos, bombardearam também a única usina que
fornecia energia elétrica para Gaza.
Às escuras, sem refúgio seguro nem
hospitais e com cadáveres espalhados entre os escombros da destruição – este é
o retrato da faixa de Gaza.
É possível uma posição de neutralidade?
Só para os hipócritas. Neutralidade perante a barbárie e o genocídio equivale a
tomar posição a seu favor. Não há meio termo possível em relação a Israel.
O colunista desta Folha Ricardo
Melo teve a coragem de defender que a única solução para a questão é o fim do
Estado terrorista de Israel. Foi bombardeado pelos sionistas de plantão e pelos
defensores da neutralidade. E, como não poderia deixar de ser, acusado de
antissemita.
Um pouco de história faz bem ao debate.
O movimento sionista surgiu no final do
século 19, movido pelo apelo religioso de retorno à “Terra Prometida”, em
referência à colina de Sion em Jerusalém. A proposta era construir colônias
judaicas na Palestina, que então já contava com 600 mil habitantes. Ou seja,
não se tratava de uma terra despovoada, mas de um povo lá estabelecido há mais
de 12 séculos.
Nem todos os sionistas defendiam um
Estado judeu na Palestina. Havia formas de sionismo cultural ou religioso que
reconheciam a legitimidade dos palestinos sobre seu território. Albert
Einstein, por exemplo, foi um dos que rechaçou em várias oportunidades o
sionismo político, isto é, um Estado religioso na Palestina e contra os
palestinos.
No entanto prevaleceu ao longo dos
tempos a posição colonialista. Seu maior representante foi David Ben Gurion
que, diante da natural resistência dos palestinos, organizou as primeiras
formas de terrorismo sionista, através dos grupos armados Haganá, Stern e Irgun
– este último responsável por um ataque à bomba em um hotel de Jerusalém em
1946.
Os palestinos eram então ampla maioria
populacional, com apenas 30% de judeus na Palestina até 1947. Porém, por meio
das armas, a partir de 1948 – quando há a proclamação do Estado de Israel – a
maioria palestina foi sendo expulsa sistematicamente de seu território. Cerca
de metade dos palestinos tornaram-se após 1949 refugiados em países árabes
vizinhos, especialmente na Jordânia, Síria e Líbano.
A vitória militar dos sionistas só foi
possível graças ao contundente apoio militar de países europeus e dos Estados
Unidos.
Em 1967, Israel dá o segundo grande
golpe. Após o Presidente egípcio Abdel Nasser fechar o golfo de Ácaba para os
navios israelenses, os sionistas atacam com decisivo apoio norte-americano,
quadruplicando seu território em seis dias, tomando inclusive territórios do
Egito e da Síria. Desta forma bélica e imperialista – como corsários dos
Estados Unidos – Israel foi formando seu domínio.
Depois de 1967 foram massacres atrás de
massacres. Um dos mais cruéis – ao lado do atual – foi no Líbano em 1982. Após
invadir Beirute, as tropas comandadas por Ariel Sharon – que veio a ser
primeiro-ministro posteriormente – cercaram os campos de refugiados palestinos
em Sabra e Chatilla e entregaram milhares de palestinos ao ódio de milicianos
da Falange Libanesa. Após 30 horas ininterruptas de massacre, foram 2.400
mortos (de acordo com a Cruz Vermelha) e centenas de torturados, estuprados e mutilados
– incluindo evidentemente crianças, mulheres e idosos.
Hoje há 4,5 milhões de refugiados
palestinos segundo a ONU. Este número só tende a aumentar pela política
higienista de Israel.
Caminhamos neste momento em Gaza para o
maior genocídio do século 21. E há os que insistem no cínico argumento do
direito à autodefesa de Israel. Quem ao longo da história sempre atacou agora
vem falar em defesa?
Tudo isso perante a passividade
complacente da maior parte dos líderes políticos do mundo. O Brasil limitou-se
a chamar o embaixador para esclarecimentos. Foi chamado de “anão diplomático”
pelo governo de Israel e nada respondeu. Romper relações políticas e econômicas com Israel é uma atitude
urgente e de ordem humanitária.
A hipocrisia chega ao máximo quando
acusa os críticos do terrorismo israelense de antissemitas. O antissemitismo,
assim como todas as formas de ódio racial, religioso e étnico, deve ser
veementemente condenado. Agora, utilizar o antissemitismo ou o execrável
genocídio nazista aos judeus como argumento para continuar massacrando os
palestinos é inaceitável.
É uma inversão de valores. Ou melhor, é
a história contada pelos vencedores. Como disse certa vez Robert McNamara,
Secretário de Defesa dos Estados Unidos durante a Guerra do Vietnã, se o Japão
vencesse a Segunda Guerra, Roosevelt seria condenado por crimes de guerra
contra a humanidade e não condecorado com títulos e bustos pelo mundo. A história é contada pelos vencedores.
É possível que Benjamin Netanyahu,
comandante do massacre em Gaza, ainda receba o Prêmio Nobel da Paz. E que os
palestinos, após desaparecerem do mapa, passem para a história como um povo
bárbaro e terrorista.
* Publicado originalmente no
jornal Folha de S.Paulo, em 31 de julho de 2014.
Um comentário:
Jesus Cristo Esta Voltando!!!
Postar um comentário