Quetzal: o pássaro. |
Quetzacoalt: o Deus Sol |
O ciclo natural da vida orienta a existência e a sobrevivência dos seres vivos na natureza, onde ela mesma se encarrega de manter o próprio equilíbrio.
Os indígenas, em sua
diversidade, compreendiam a importância do respeito à natureza para
garantia do alimento, da caça, da moradia e da própria
subsistência. E neste universo de mistério, predadores, plantas
medicinais e
riquezas; a simbiose entre o homem e o meio ambiente, faziam com que a
natureza assumisse um papel divino. No mesmo espaço onde existiam
tantas perguntas, ao mesmo tempo era o lugar onde estavam as
respostas, em um balanço cíclico do nascimento, do crescimento, do
envelhecimento e da morte, das metamorfoses provenientes das estações
do ano, e do passar das horas ditados pelo despontar até o pôr do
sol.
A
principal divindade da cultura Asteca é o deus Quetzalcoatl: o Deus
Sol; irmão gêmeo de Xolotl, Deus das Trevas e da má sorte.
A origem do nome Quetzalcoalt
está na composição por justaposição de duas palavras - quetzal,
uma
ave de bela plumagem que habita a selva do sudeste de México,
e cóatl,
que significa “serpente”, sendo traduzido ou interpretado pelos
espanhóis como “serpente emplumada”.
Os Astecas veneravam as plumas
do Quetzal como uma alegoria do crescimento das plantas. As penas de
Quetzal eram muito valiosas e os mais poderosos bordavam-nas em suas
vestimentas. Desta maneira, governantes
e nobres se distinguiam do resto da população pela aproximação ao
Deus Quetzalcóatl nos rituais religiosos e sacrifícios
humanos
realizados à ele.
Um
dos cocares mais famosos era o penacho atribuído a Moctezuma – rei
dos astecas, que governou até a chegada dos espanhóis na América.
Para conseguir as longas plumas iridescentes, era preciso capturar a
ave e depois libertá-la. Matar a um Quetzal era um crime cuja
sentença acabava em pena de morte.
No livro
“A conquista da América. A questão do outro”, escrito Tzvetan
Todorov, a desconstrução do mundo asteca e a conquista do México, liderada por Hernan Cortez, culminou
no
fim do império de Monteczuma. O
autor faz
uma análise comparativa entre o a visão dos
indígenas
e a visão dos espanhóis mediante ao encontro de
mundos tão distintos. No que se refere aos indígenas, o historiador
utiliza o livro maia Chilam Balam para descrever e apresentar a
concepção do
mundo asteca e a noção de tempo cíclico, que inclui a relação do
homem com a natureza, onde “o
mundo é colocado, em princípio, como superdeterminado; os homens
respondem a essa situação regulamentando minuciosamente sua vida
social. Tudo é previsível. Tudo é previsto. Os astecas conheciam a
ordem dos dias.
Este
aspecto cultural definiu as distinções hierárquicas na sociedade
devido a forte integração do indivíduo com a vida religiosa. Um
indivíduo não era igual ao outro, e assumiam papéis distintos na
sociedade, determinados não só, pela classe social que ocupavam, mas
também, pelas roupas, adornos, tipos de casa.
O
futuro do indivíduo era
resultado de um passado coletivo que se revelava pelos presságios. E por essa razão o calendário asteca é cíclico, como o ritmo da
natureza. Em um
mundo voltado para o passado, dominado pela tradição, sobrevém a
conquista: um acontecimento imprevisível, surpreendente, único
(Todorov,
1999:100) e fatal para sociedade asteca.
Em
1519, quando o conquistador Hernán Cortés chegou ao
México,
o
imperador asteca, Moctezuma Xocoyotzin, acreditou que Cortés era o
Deus Quetzalcóatl, o que levou ao
genocídio dos astecas
pelos espanhóis, a colonização, escravização,
assimilação cultural
e construção de um novo mundo, cuja base não era mais a relação
com a natureza, e sim a expropriação das riquezas naturais.
Dos
belos templos que se transformaram em ruínas, o pássaro Quetzal
sobrevive relembrando um passado de uma grande civilização.
Fonte:
TODOROV, Tzvetan. A
conquista da América. A
questão do outro. SP, Martins Fontes, 1999.
Nenhum comentário:
Postar um comentário