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18 de janeiro de 2008
Olhares de um maranhense: “As enchentes e as casas suspensas por Jiraus”.
A rotina do lugarejo Bom Que Dói só foi quebrada com as primeiras chuvas de janeiro, que encheram o lago e inundaram completamente o povoado. No inicio, as pessoas permaneciam em casa, na esperança de que parasse de chover. Logo chegaram à conclusão de que não haveria estiagem e era impossível permanecer nessa situação, pois os mantimentos estavam escasseando. Foram obrigados a executar tarefas para não ficarem a mercê do aguaceiro torrencial que caía diariamente. As canoas utilizadas na pesca passaram ser um meio de transporte.
Muitos animais domésticos morreram afogados e eram arrastados pelas correntezas.
As casas completamente inundadas tiveram que ser adaptadas, com a construção de jiraus suspensos de madeira. Os homens trabalhavam em mutirão, transportando madeira nas canoas. Em poucos dias o lugar tomou forma.
Entretanto, aconteceu um fato que trouxe preocupação aos pais das crianças de Bom Que Dói, é que elas passavam o dia inteiro nadando com peixes, numa prática arriscada de vida.
Quando, altas horas da noite, os pais davam ausência dos filhos, iam procurá-los e os encontravam dormindo debaixo d’água, em completo estágio de felicidade, como se tudo fosse normal. Os meninos já tinham escamas e barbatanas como os peixes, e as meninas desenvolveram caudas como as sereias, e cantavam lamentos de amor ao anoitecer.
Depois de seis meses, as águas foram baixando e o povoado voltou a ter a sua forma original, a não ser pela mudança do estilo das casas que permaneceram com jiraus suspensos, visto que os habitantes receavam que as chuvas pudessem voltar e alagassem as ruas.
Recuperaram as lavouras e voltaram às atividades normais de pesca no lago, que produzia em grande quantidade.
(Gilmar Pereira dos Santos In: “Nas Terras de Bom Que Dói”)
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